Orfandade

Realmente, não ha. desamparado diante do Senhor, mas ha. uma espécie de orfandade que nos convoca em toda parte, maiores reflexões, quanto ao dever de amparar a vida que nos cerca.

Referimo-nos às necessidades múltiplas que nos reclamam o esforço e a tolerância na Pratica efetiva do bem.

Em verdade, será sempre louvável a construção de casas e refúgios, creches e hospitais, onde as crianças sem lar encontrem abrigo e medicação.

Todavia, não olvidemos o mundo das criaturas inferiores e das cousas, aparentemente sem importância, que nos rodela.

Aí, vemos quadros inquietantes que efetivamente nos ensombram e afligem.

Não é somente o painel escuro do irmão em Humanidade, que vagueia sem rumo, a única porta de dor a pedir nos trabalho assistencial.

É também a terra empobrecida, necessitada de adubo e sementeira vivificante.

É a árvore benfeitora, relegada ao abandono.

É a fonte intoxicada, que nos solicita proteção e carinho.

É a casa desmantelada, rogando atenção e limpeza.

É a via pública que nos compete defender e respeitar, pedindo-nos bondade e higiene.

É a animal que nos auxilia, endereçado por nossa inconseqüência ao cansaço, sede e fome, suplicando nos alimento e repouso.

É a ferramenta que sentenciamos à ferrugem e ao esquecimento prejudicial.

A essa orfandade triste, que nos desafia, em todos os setores da luta terrestre, podemos prestar o melhor concurso, - o concurso da bondade silenciosa e diligente, - que nos trará a resposta do progresso e do bem-estar de todos.

Não esquecer que somos responsáveis pela região de serviço que nos sustenta.

Não condenes orfandade os instrumentos de trabalho em que a tua missão na Terra se desenvolve.

Cuida de assistir aos seres e às cousas do pr6prio caminho, com os mais elevados sentimentos do coração, e receberás a constante assistência da Bondade Divina, - luz da vida a brilhar perenemente no caminho de todos.

Pelo Espírito Emmanuel

XAVIER, Francisco Cândido. Fonte de Paz. Espíritos Diversos. IDE. Capítulo 14.

Em Peregrinação

"Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura." - Paulo. (HEBREUS, 13:14.)

Risível é o instinto de apropriação indébita que assinala a maioria dos homens.

Não será a Terra comparável a grande carro cósmico, onde se encontra o espírito em viagem educativa?

Se a criatura permanece na abastança material, apenas excursiona em aposentos mais confortáveis.

Se respira na pobreza, viaja igualmente com vistas ao mesmo destino, apesar da condição de segunda classe transitória.

Se apresenta notável figuração física, somente enverga efêmera vestidura de aspecto mais agradável, através de curto tempo, na jornada empreendida.

Se exibe traços menos belos ou caracterizados de evidentes imperfeições, vale-se de indumentária tão passageira quanto a mais linda roupagem do próximo, na peregrinação em curso.

Por mais que o impulso de propriedade ateie fogueiras de perturbações e discórdias, na maquinaria do mundo, a realidade é que homem algum possui no chão do Planeta domicílio permanente. Todos os patrimônios materiais a que se atira, ávido de possuir, se desgastam e transformam. Nos bens que incorpora ao seu nome, até o corpo que julga exclusivamente seu, ocorrem modificações cada dia, impelindo-o a renovar-se e melhorar-se para a eternidade.

Se não estás cego, pois, para as leis da vida, se já despertaste para o entendimento superior, examina, a tempo, onde te deixará, provisoriamente, o comboio da experiência humana, nas súbitas paradas da morte.

XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 28.

Com Discernimento

Não somente os espinhos, mas as rosas também.

Não apenas os pedregulhos, igualmente a estrada.

Não exclusivamente as sombras, porém a claridade do dia.

Não só a enfermidade, também a saúde.

Não unicamente os desencantos, senão as esperanças e as alegrias.

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O espinho que fere defende a rosa, e esta ignora que se evolando no leve ar da manhã aromatiza em derredor.

Os pedregulhos dilaceram os pés, entretanto, são parte da segurança na estrada, que oferece possibilidades de avanço na direção dos objetivos.

As sombras amedrontam, todavia, facultam, também, os recursos para o repouso, de modo a oferecerem forças para as atividades da luz.

A enfermidade que macera ajuda a valorizar a saúde e desperta o homem para a própria fragilidade orgânica, trabalhando pelo seu labor imortalista.

Os desencantos doem, enquanto convocam a mente e o sentimento para as esperanças e as alegrias da vida espiritual.

Todos os que deambulam no carro fisiológico, enganados momentâneamente pelas limitações da caminhada humana, gostariam de estar guindados aos tronos da vaidade, sob as luzes abundantes quão transitórias dos refletores da glória, que provocam inveja e trabalham pela loucura.

Afadigados sob o peso das ambições, aparecem de sorrisos largos os cultores da alegria efêmera e coração estilhaçado pela ansiedade. Profissionais do bom humor experimentam o travo insolvente do cansaço que não podem revelar, obrigados pela compulsória da bajulação popular a desvios da realidade até às alucinações odientas.

São afáveis por compromisso dos interêsses imediatos, trabalhando para a insânia das vacuidades impreenchíveis, que o despertar próximo ou remoto transformará em travas de desesperação.

Invejados são também invejosas, sempre em guarda contra os outros que, segundo êles, são constante ameaça ao trono onde brilham e se desgastam.

Cercados por amôres compulsórios, que os utilizam para suas próprias ambições, frustram-se, e experimentam soledade interior, malgrado as multidões que os ovacionam.

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A rebeldia contra o sofrimento é minoridade espiritual.

O desespêro face às lutas caracteriza as disposições inferiores do ser.

A ansiedade descabida pelo triunfo na Terra significa desequilíbrio da razão.

A acrimônia contumaz responde pelo primarismo de quem a cultiva.

As paixões de qualquer natureza vinculam o espírito às formas primeiras, impedindo-o de plainar acima das vicissitudes.

Considera que exame é teste de avaliação das conquistas.

Prova constitui técnica de valorização dos bens adquiridos nos empreendimentos do caminho humano.

Sofrimento, portanto, dêste ou daquele matiz, também significa desgaste para mudança de tom vibratório, no ritmo da evolução.

Ninguém confia responsabilidades maiores àqueles que não se permitiram promover antes as inquirições selecionadoras dos tipos e das realizações conseguidas.

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Não te facultes espezinhar, quando convidado aos testemunhos da vida, essas abençoadas oportunidades de superação de ti mesmo. O labor de qualquer natureza afere as resistências de quem se propõe a maiores realizações.

Em tôda parte defrontarás a dor trabalhando silenciosamente os espíritos, mesmo quando rebelados, a fim de os alçar à felicidade que aspiram e não sabem como por ela esforçar-se.

Dêsse modo, ludibriado ou aparentemente vencido, perdendo o que se convencionou chamar "a oportunidade de gozar", evita o desânimo e desatrelate do carro da amargura.

Fortemente vinculado ao espírito da vida, que avança sem cessar e adorna tudo; inspirado pelo ideal do amor, que representa a Paternidade Divina no teu coração; e orando pelo pensamento e através dos atos, poderás alcançar a fortuna da paz interior e acumular os tesouros da alegria plena, que bastarão para a concretização da felicidade do teu espírito.

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Nos espinhos está a segurança das rosas.

Nos pedregulhos o refôrço da estrada.

Nas sombras a oportunidade da meditação.

Na enfermidade o convite à prece.

Nos desencantos a superação da forma física.

Reflete, assim, para discernimento na jornada do Rabi, em que não faltaram espinhos de ingratidão, pedregulhos de maldade, sombras de perseguição, enfermidades da inveja e desencantos da deserção dos companheiros mais queridos, enquanto Ele prosseguiu sem desfalecimentos até o fim, de modo a legar-nos a lição da resistência contra o mal, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.

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"Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?" Mateus: capítulo 16º, versículo 3,

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"A natureza do instrumento não está a indicar a que utilização deve prestar-se? A enxada que o jardineiro entrega a seu ajudante não mostra a êste último que lhe cumpre cavar a Terra? Que diríeis, se êsse ajudante, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu patrão? Diríeis que é horrível e que êle merece ser expulso". Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 7º - Item 13.

FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 32.

Avareza

O avarento dos bens materiais é credor de reprovação, mas o avarento do amor é digno de lástima.

O primeiro se esconde num poço dourado, o segundo mergulha-se nas sombras do coração.

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O sovina da fortuna amoedada retém pedras, metais e papéis de valor convencional, que a vida substitui na provisão de recursos à comunidade, mas o sovina da alma retém a fonte da felicidade e da paz, da esperança e do bom ânimo que constitui alimento indispensável à própria vida.

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O primeiro teme gastar bagatelas e arroja-se à enfermidade e à fome.

O segundo teme difundir os conhecimentos superiores de que se enriquece e suscita a incompreensão, ao redor dos próprios passos.

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O sovina da riqueza física encarcera-se no egoísmo.

O sovina das bênçãos da alma gera a estagnação onde se encontra, envolvendo-se ele mesmo em nevoeiro perturbador.

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Ainda que não possuas dinheiro com que atender ás necessidades do próximo, não olvides o tesouro de dons espirituais que o Senhor te situou no cerne da própria alma.

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Auxilia sempre.

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Mais se faz útil quem mais se dedica aos semelhantes amparando-lhes a vida.

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As casas bancárias e as bolsas repletas podem guardar a fria correção dos números sem consciência, mas o coração daquele que ama é sol a benefício das criaturas, convertendo a dificuldade e a dor, a desventura e a escassez em recursos prodigiosos, destinados à humana sustentação.

XAVIER, Francisco Cândido. Dinheiro. Pelo Espírito Emmanuel. IDE. Capítulo 15.

A Diferença

A reunião alcançava a parte final. E, na organização mediúnica, Bezerra de Menezes retinha a palavra.

O benfeitor desencarnado distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:

- Bezerra, não concordo com tanta máscara no ambiente espírita. Estou cansado de tartufismo. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão? Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me freqüentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente. Posso declarar-me espírita com tantos defeitos?

O venerável orientador espiritual respondeu, sereno:

- Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espírita-cristão...

- Como assim? - revidou o consulente agitado.

- Perfeitamente - concluiu Bezerra, sem alterar-se. - Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham... Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas...

E, sorrindo:

- Como vê, há muita diferença.

Pelo Espírito Irmão X

XAVIER, Francisco Cândido. Momentos de Ouro. Espíritos Diversos. GEEM.