Provação Materna

Gritava a nobre anciã, em rede morna e langue:
– Bate, meu filho!... Zurze o chicote a preceito!...
Um servo é igual ao boi que nasceu para o eito...
E o filho, Dom Muniz, deixava o servo em sangue.

Dos salões da fazenda ao derradeiro mangue,
Esculpira a fidalga um carrasco perfeito.
Mas vem a morte, um dia, e leva o filho eleito,
A matrona pranteia e larga o corpo exangue...

No Além, cai Dom Muniz em abismos de prova!...
Aflita, a pobre mãe pede a Deus vida nova,
Quer guardá-lo, outra vez, numa estrada sem brilho...

Hoje, mulher sem lar, definha, a pouco e pouco,
E, aos duros repelões de um jovem cego e louco,
Roga, em pranto de amor: "Não me batas, meu filho!..."

Pelo Espírito Valentim Magalhães

XAVIER, Francisco Cândido. Poetas Redivivos. Espíritos Diversos. FEB. Capítulo 12.