A Vingança
A vingança é agradável ao coração, disse o poeta. Oh!
pobres cegos, que dais livre curso à mais horrenda das paixões,
credes fazer mal ao próximo quando o golpeais e não notais que
eles se voltam contra vós. Ela não só é um crime, mas absurda falta
de habilidade. É, como seus irmãos o rancor, o ódio, o ciúme,
filhos do orgulho, o meio de que se servem os Espíritos das trevas
para atrair a si aqueles que receiam lhes escapem; é o mais infalível
instrumento de perdição posto nas mãos dos homens pelos
inimigos que se encarniçam na sua decadência moral. Resisti, filhos
da Terra, a esse culposo arrastamento, e ficai certos de que, se
alguém mereceu a vossa cólera, não será no paroxismo do rancor
que encontrareis a calma de consciência. Ponde nas mãos do
Todo-Poderoso o cuidado de se pronunciar sobre os vossos
direitos e sobre a justiça de vossa causa. Há na vingança algo de
ímpio e de degradante para o Espírito.
Não, a vingança não é compatível com a perfeição.
Enquanto uma alma conservar tal sentimento ficará nas regiões
mais miseráveis do mundo dos Espíritos. Mas, como os outros, o
vosso não será o eterno joguete dessa paixão infeliz; e posso
garantir que a abolição da falsa noção do inferno eterno, ou, antes,
da danação eterna, que tem servido de pretexto ou de escusa para
atos de vingança, será a aurora de uma nova era de tolerância e de
mansuetude, que não tardará a estender-se até às regiões privadas
da vida moral. Poderia o homem condenar a vingança quando lhe
apresentavam Deus como ciumento e se vingando por torturas sem
fim? Cessai, pois, ó homens, de insultar a Divindade, emprestando-lhe as vossas mais ignóbeis paixões. Então sereis, ó habitantes da
Terra, um povo abençoado por Deus. Vós que me escutais, fazei de
modo que, liberta a vossa alma do culposo e vergonhoso móvel dos
atos mais contrários à caridade, mereçais ser admitidos no recinto
sagrado, no qual só a caridade pode abrir as portas.
Revista Espírita de 1862.